Nunca escondi a minha preferência em fotografar arquitetura, acredito que minha formação em design de interiores influenciou e direcionou-me para essa área da fotografia.
É difícil citar nomes de fotógrafos como referência, pois a história da fotografia é recheada deles. Existe uma lista imensa de artistas que foram imprescindíveis, revolucionários, precursores de idéias e estilos. Pesquisar a trajetória de cada um deles é indispensável, prazeroso e muito instrutivo. Sou desprovida de preconceito quando o assunto é arte. Ao invés de preocuparmos com críticas, deveríamos tentar entender a subjetividade de cada artista e aprender com eles. É tão interessante ver o estilo e a linha de pensamento de cada um… Além do mais, a arte não é exclusiva de um ou de outro estilo, é democrática. Consumir livros de arte e filosofia virou uma mania. Na minha opinião é difícil construir um projeto de fotografia autoral consistente sem se nutrir dessas fontes de conhecimento.
Na fotografia, pesquiso também aqueles fotógrafos que não tem nada a ver com a área que escolhi e por que teria que ser diferente? Se você também gosta de arte, estude tudo que for relacionado com ela. Todos os movimentos artísticos ocorridos na história, tiveram uma relação com a época vivida e influenciaram não somente a pintura, mas também a fotografia, a escultura, o design, a moda, a arquitetura, enfim todas as produções artísticas.
Tenho uma grande identificação com o trabalho de alguns fotógrafos. O fotógrafo e arquiteto Cristiano Mascaro tem um magnífico trabalho focado em arquitetura. Nesse ano tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente e o privilégio de ser sua monitora durante o workshop “Encontro com o Autor: A Cidade, com Cristiano Mascaro” durante o Festival Foto em Pauta Tiradentes.
É um dos fotógrafos mais importantes da urbe e da arquitetura da capital paulista, que documenta sistematicamente há mais de duas décadas. Atuou como repórter fotográfico na revista Veja, entre 1968 e 1972. Recebeu vários prêmios nacionais e internacionais.
Mestre e doutor em estruturas ambientais urbanas, ambos pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, onde dirigiu o Laboratório de Recursos Audiovisuais entre 1974 e 1988. Foi professor de fotojornalismo da Enfoco Escola de Fotografia (1972-1975) e de comunicação visual na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Santos (1976-1986).
Outro fotógrafo de grande influência para mim é o francês Marcel Gautherot, que viveu e trabalhou no Brasil durante 57 anos. A pedido do arquiteto Oscar Niemeyer, documentou a construção de Brasília. Esse belíssimo trabalho está reunido no livro “Marcel Gautherot Brasília” (tenho e recomendo!), lançado em 2010 pelo Instituto Moreira Salles.
Também percorreu 18 estados brasileiros fotografando, registrando o povo brasileiro, sua arquitetura, suas festas. Sua coleção é um vasto retrato da diversidade cultural do país. Desde 1999, seu acervo composto de mais de 25 mil negativos foi adquirido pelo Instituto Moreira Salles.
No ano passado, esse trabalho documental de Brasília, motivou-me o desejo de documentar a transformação do Estádio Governador Magalhães Pinto (conhecido como Mineirão) para a Copa do Mundo de 2014. Para a minha frustração, a burocracia impediu-me de fazer esse projeto. Encontrei-me com autoridades do Governo e da ADEMG para apresentar meu projeto, colocaram-me empecilhos por se tratar de uma construção pública. Não compreendi os obstáculos, pois na minha opinião, deveria ser o contrário, exatamente por se tratar de um orgão público, deveria ser garantido a uma cidadã e artista mineira, o direito de registrar essa importante obra para a história de Minas Gerais.
Também gostaria de destacar o trabalho da fotógrafa americana Berenice Abbott. Nascida em Springfield, estado de Ohio em 1898, mudou-se em 1921 para Paris, foi assistente do grande fotógrafo Man Ray que lhe ensinou tudo sobre fotografia. Ainda em Paris também conheceu uma de suas maiores influências fotográficas, o fotógrafo francês Eugene Atget que por vinte anos produziu oito mil fotos que registraram a cultura, arquitetura e monumentos da capital Francesa. Inspirada pelo trabalho realizado por Atget, voltou os Estados Unidos da América e fez algo semelhante ao que ele fez em Paris, só que em Nova Iorque. Daí nascia o seu trabalho mais conhecido; o Changing New York, onde ela mostra a cidade velha dando lugar a modernidade dos arranha-céus, vias expressas e pontes de metal que modificavam gradativamente a paisagem urbana.
Berenice também foi uma grande retratista, mas como meu enfoque aqui hoje é falar sobre fotografia de arquitetura quis destacar o seu famoso e importante trabalho documental sobre a cidade de Nova York.
Como disse no início do post, é praticamente impossível relacionar todos os artistas que me servem de inspiração e que auxiliam na minha formação, pois a pesquisa é constante. Por isso, limitei-me citando apenas os fotógrafos de maior influência para mim. Mesmo achando que já prolonguei esse post, não posso deixar de mencionar mais dois fotógrafos que são de grande importância para mim. O primeiro é Thomaz Farkas que no início desse ano dediquei um post à ele aqui.
Quem conhece o meu trabalho, sabe que uma das minhas características mais fortes é o uso do contraste entre as altas e baixas luzes. Também faço muito uso da geometria em minhas imagens e escutando a análise de alguns críticos de arte, percebo que meu trabalho é um pouco surrealista. Talvez essas características que se tornaram o meu perfil, fazem eu me identificar tanto com o trabalho de Farkas.
Por último, deixei aquele que para mim foi um dos maiores mestres (se não o maior) da história da fotografia, André Kertèsz. Fotógrafo também de origem húngara, iniciou-se na fotografia em 1913 como autodidata.
Serviu brevemente na Primeira Guerra Mundial e se mudou para Paris em 1925, então capital artística do mundo, contra os desejos de sua família. Conviveu com os intelectuais e artistas de Montparnasse, se estabeleceu como fotógrafo, fazendo trabalhos para algumas revistas francesas e alemãs em ascensão nesta época. Ainda em Paris começou a trabalhar no seu projeto Distorções.
Em 1936 mudou-se para Nova Iorque e começou a colaborar com as revistas Vogue e Haper´s Bazaar. Naturalizou-se norte-americano em 1944.
Em 1946, Kertèsz teve o seu trabalho exposto no prestigiado “The art Institute of Chicago”, numa exposição individual. Em 1964, seu trabalho foi reconhecido pelo “Museum of Modern Art” em Nova Iorque, onde foi exposta uma retrospectiva da sua carreira. Esta exposição organizada por John Szarkowski, curador do MoMA, ajudou a restabelecer o seu reconhecimento internacional. John Szarkowski disse uma vez que “mais do que qualquer outro fotógrafo, André Kertész demonstrou a beleza e a estética da câmera pequena.”
A partir de 1963, dedicou-se somente à produção de ensaios pessoais e à exibição e publicação de sua obra. É reconhecido como um dos maiores fotógrafos do mundo. Seu estilo único influenciou uma geração de fotógrafos na Europa, entre eles Henri Cartier-Bresson, Robert Capa e Brassai.
Seus temas são muito variados, embora ressalte neles a curiosidade visual na hora de encontrar novas perspectivas das coisas mais comuns.
A foto abaixo por muito tempo intrigou-me, seria um reflexo ou um registro através de uma vidraça quebrada? Um certo dia, conversando com um amigo estudioso em fotografia, ele revelou-me a verdadeira história dessa misteriosa fotografia. Por algum motivo, a chapa de vidro que continha essa imagem durante o seu armazenamento ou manuseio quebrou-se. Kertèsz então resolveu revelar a chapa quebrada e o resultado foi essa foto magnífica.
Saber a verdadeira história dessa fotografia deixou-me ainda mais apaixonada por ela, por isso compartilho com vocês e termino por aqui.